segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Cigarra ou formiga?


Recebi um daqueles e-mails com apresentações de power point, com os quais não costumo perder tempo, mas esse me chamou a atenção. Era da estória da cigarra e da formiguinha... Quem não se lembra dessa estória? Eu acho que me interessei pela apresentação porque me fez lembrar da minha época de criança (há muuuuito tempo atrás), quando eu encenei um teatrinho desse conto em uma escola infantil (gospel, rsrsrs...).

Mas o que me chamou a atenção, tirando o fato de que o autor trocou a cigarra por um gafanhoto (de propósito ou não...), é que os slides apresentavam uma versão brasileira da estória: a formiga trabalha e acumula os frutos desse trabalho enquanto o gafanhoto(?) fica lá na vida boa, na roda de samba, tomando uma cerveja com os amigos... Depois, vem o frio e a formiga que trabalhou, fica tranquila! O gafanhoto que não trabalhou, começa a passar necessidade, chama a imprensa, faz cara de coitado na frente da casa da formiga... Bom, pra encurtar, a formiga passa a ser processada porque vivia em propriedade improdutiva e o gafanhoto e seu bando ganham o direito (concedido pelo governo) de viver na propriedade da formiga... e por aí vai...

O que mais me impressionou foi a maneira que o autor utilizou para fazer o leitor (ou quem assiste os slides) chegar a conclusão de que a formiga que trabalhou merecia ser bem-sucedida e não foi... Já o gafanhoto, que deveria mesmo é se ferrar, já que não trabalhava, se deu bem! A comparação pretendida é de uma espécie de divisão de classe: o rico que deu duro pra ter o que tem, e o pobre que não quer saber de trabalhar e por isso ficou pobre e continuará pobre.

Fiquei pensando: tudo bem que o camarada que trabalha tem direito de desfrutar do que conseguiu, mas o que a estória ensina é: dane-se quem não tem... o problema não é meu!!! Se o pobre não quer trabalhar, vai continuar pobre! Só é pobre porque quer, ou melhor, porque não quer (trabalhar).

Nesse último final de semana fui ao Usina 21, espaço onde os participantes puderam pensar um pouco na transformação social que a igreja não causa atualmente, apesar de sermos, no Brasil, cerca de 20% da população... Então lembrei: desde criança, na escola (gospel) que frequentava, eu fui ensinado a pensar: "devo trabalhar e me fartar com o fruto do meu trabalho, quem não quer se esforçar, que se dane..."

Fiquei preocupado! O que será que temos ensinado pra nova geração que frequenta os templos evangélicos? Justiça social? Ou individualismo e egoísmo? É muito louco pensar nessas coisas, porque os valores que vão povoar a mente  dos jovens de hoje estão aí, sendo propagado nas letras das músicas, nas peças de teatro, nos púlpitos, nos canais de TV... Assim como a estorinha da formiga e da cigarra... Sutil... (e as vezes não tão sutil). O resultado está aí: um bando de crente que não faz mais nada a não ser acumular dinheiro e acumular bens...

Me bateu uma tristeza ao conversar com um amigo que está se formando no seminário e que irá servir a uma igrejinha no Nordeste, pra lá de onde Judas perdeu o que lhe sobrava... Não fiquei triste porque ele vai, mas fiquei por saber que ele vai ser pobre! E vai trabalhar! Mas vai ser pobre... Pelo simples fato de que a igreja acumula a riqueza aqui no Sudeste e não distribui lá pro Nordeste! Pois é... Dane-se o pobre!

Maranata!!! Não vamos aguentar por muito tempo Jesus!!!