quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Música Secular por Bráulia Ribeiro




Sobre música do mundo, e música do (sub, sobre, extra, fora, ex, pàra, outro??) mundo 
(extraído de: Jocum - DF)
 
Conheci pessoalmente o Don Richardson, missionário na Papua Nova Guiné, autor do best seller “O Totem da Paz” entre outros livros, amigo, homem humilde e que honra o trabalho que nós brasileiros fazemos entre os índios do Brasil. Numa entrevista particular uma vez, meu marido lhe perguntou: Se voce tivesse de começar de novo, o que faria de diferente no seu ministério entre os sawis? Uma pergunta delicada, na verdade um eufemismo para: - “qual foi o grande erro que você cometeu e que não repetiria se tivesse uma nova oportunidade?”
Ele pensou, pensou, o que é um bom sinal... E finalmente disse: - Duas coisas; primeiro eu não teria traduzido corinhos da igreja Indonésia para a igreja Sawi, e o segundo teria usado dramas ao invés de pregação falada para ensinar o evangelho...
 
Pode parecer pouco para os não iniciados, mas para nós antropo-etno-linguo-teo-missionários foi a admissão de um grande erro. Ele estava dizendo que teria introduzido o evangelho numa forma cultural sawi e não na forma estrangeira... A maneira de cultuar, a maneira de pregar usada pelos sawis que são quase que 70% cristãos, é estrangeira, eles louvam indonesiamente, talvez até saibam cantar: ...”sim Deus é bom”... na sua própria língua.
 
Vamos sempre a cultos missionários, tristes a meu ver, quando se canta “yes God is good”, sim Deus é bom e por aí afora em muitas línguas, crendo-se que o grande propósito de Deus para o universo humano é formar na terra uma imensa e uniforme igreja evangélica.
 
O erro que Don cometeu, também cometeram os que primeiro nos pregaram o evangelho, e também continuamos cometendo nós líderes cristãos do Brasil de hoje. No último encontro nacional de JOCUM que se crê vanguarda e as vezes é perseguida por ser mesmo vanguarda em alguns aspectos, na frente de quase mil jovens, liderando uma reunião pedi que a equipe de louvor tocasse “Velha Infância” dos Tribalistas para louvarmos a Deus com intimidade. Ao mesmo tempo em que a música trouxe um espírito doce e especialmente terno para toda a platéia, encheu a boca e o coração dos jovens presentes de alegria, muitas pessoas se escandalizaram, e o líder do louvor teve que enfrentar muitas caras feias até o último dia...
 
Gosto de tocar “Um índio” de Caetano Veloso quando prego em congressos, e Maria Maria, do Milton que considero músicas essenciais no entendimento de nossa identidade brasileira. Infelizmente nosso Jesus evangélico não é brasileiro. Ele é internacional, e por internacional leia-se americano-europeu do norte. Este Jesus fala inglês, louva medievalmente para algumas denominações e hosana-music-vineyard-mente para outras. Mas como um religioso fariseu, coloca-se sempre à parte da cultura, acima dela, desprezando-a completamente ao invés de restaurá-la, redimí-la, legitimá-la, comunicando-se com ela. Este Jesus fariseu-evangélico ora pelas praças usando shofares se proclamando santo e desprezando tudo e todos ao seu redor. Fala num jargão de gueto cultural, e se comunica apenas com seus “iniciados” e sua mensagem é obsoleta e irrelevante para a população em geral.
 
Um dia numa conferência ouvi um pastor repreender em nome de Jesus “a cultura africana de nosso meio”. Coisa triste. Não me admira que na Bahia cresça tanto o número de negros que buscam sua legitimação étnica no Candomblé. Formas culturais, danças, músicas ritmos, não são pecadoras ou santas em sua essência. São formas, vasilhas, caixas na qual se depositam as bençãos de Deus, ou maldições... Na mesma conferência me deram vinte minutos para dizer algo, e num acesso de loucura pintei a cara de índia e disse que ainda veria o mesmo povo louvando ao som de centenas de tambores baianos numa timbalada poderosa e santa. Queixos se deslocaram do lugar, cabelos se arrepiaram de horror, mas inúmeras pessoas se sentiram “misteriosamente” livres para amarem quem são suas músicas, suas danças, curtirem MPB e dançarem danças africanas em homenagem ao Deus que criou todos os povos.
 
Baby do Brasil a cantora, há um tempo atrás, numa conferência me disse que viu o Espírito de Deus de maneira maravilhosa ungir a música “Brasileirinho” e centenas de pastores dançarem ao som do chorinho símbolo do Brasil... É o fim dos tempos? Será que estes pastores se “secularizaram” de maneira perigosa? Ou será que a revelação de que Deus nos ama a nós brasileiros como somos em todas as nossas manifestações culturais está chegando ao Brasil?
 
Fico com a última opção. Deus é amor, não é fariseu, exclusivista, preconceituoso, racista. E além de tudo, só nós ainda não sabemos, Deus é brasileiro.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Vidas divididas

Há certo tempo entrei no Púlpito e li um texto sobre as expressões das pessoas que cantam nas igrejas que costumam ser totalmente distintas das letras das músicas. Muito legal... Tem até o Smeagol do Senhor dos Anéis... E tem gente que fica mesmo com aquela cara!

Eu vivi muito tempo bastante encafifado com isso! Porque será que cantam "a alegria está no coração de quem já conhece a Jesus" com a cara de quem já conhece o CÃO?

Acho que há dois motivos pra isso: 1º) O monte de incertezas que cantamos; 2º) As divisões da nossa vida indivisível (????).

Explico:

1º) As incertezas que cantamos:

Poucas letras atuais expressam certezas (daquilo que se espera), ou seja, poucas expressam FÉ. A maioria das letras pedem mais fé, mais amor, mais presença de Deus, mais milagres de Deus, mais transformação etc.
Aparentemente não há nada de mau nisso, certo? Bom, mais ou menos... Na minha opinião!

O que penso é que Jesus, quando disse a famosa frase "está consumado", disse de uma vez por todas! Quando há a salvação, é de uma vez por todas e não à prestação, aos pouquinhos... Deus é a plenitude no Filho e no Espírito Santo. Quando estamos Nele, estamos completos! Totalmente!
Então, não há espaço para mais fé, mais amor, mais presença de Deus, mais milagres, mais transformação... Já somos plenos (em Deus), de fé, amor, presença, milagres e transformação! Isso eu creio que seja fé! Se não acreditamos nisso, o problema não está em Deus mas em nós... Nós é que não acreditamos, ou não agimos conforme isso.
Dessa forma, vivemos insatisfeitos e pedindo sempre mais. Apesar da aparência santa daquilo que pedimos, estamos, na verdade, somente expresando nossa falta de fé naquilo que já está consumado.


Alguns diriam: mas e a santificação! Pois acredito que a santificação não tem nada a ver com pedir mais de Jesus, dia após dia, para ficarmos cheios no final da vida. A santificação, pra mim é um esvaziamento de mim mesmo, de modo que só sobre Deus e sua plenitude. E observe que há pouquíssimas, pra não dizer nenhuma, letras de músicas onde pedimos: quero ser menos egoísta, menos incrédulo, menos chato etc.

Por isso é que ficamos com cara de CÃO chupando manga quando cantamos nas igrejas. Cantamos incertezas, pedimos o que já temos (será mesmo???) e no fim, ficamos somente atestando nossa incredulidade...

Em breve falo sobre as divisões da nossa vida indivisível.

Além disso, se quiser pensar melhor nisso tudo, você poderá encontrar um tempo de sossego para pensar nessas coisas em: http://metanoiamorphose.blogspot.com/

Dá uma olhadinha lá!

Abraço...